Quem me dera o velho gosto do cozido Como dantes se fazia Quando a gente enchia o nosso próprio Ai que bem que bem que me sabia, como dantes se fazia Quem me dera ainda aquele pão caseiro Que bom cheiro que ele tinha Quando a gente então passava pelo padeiro De manhã, de manhãzinha Ai que gosto que a comida tinha outrora Ai que gosto que nos dava então come-la Porque agora em vez de gosto tem um preço Que por subir de hora a hora já nem da vontade vê-la Quem me dera que a batata ainda tivesse Sendo nova o gosto antigo E ao casar com o bacalhau então pudesse A gente cá chamar-lhe um figo, ao gosto antigo Quem me dera ter alfaces bem verdinhas Mas são quase clandestinas Pois agora nestas hortas alfacinhas Só lá cheira a pesticidas Ai que gosto que a comida tinha outrora Ai que gosto que nos dava então come-la Porque agora em vez de gosto tem um preço Que por subir de hora a hora já nem da vontade vê-la Quem me dera que soubesse o carapau Como dantes me sabia E pensar que agora sei já não ser mau Não saber a porcaria, como dantes não sabia Quem me dera fosse puro o meu azeite Como era antigamente Quando a vaca já nem gosto põe no leite Com franqueza, francamente Ai que gosto que a comida tinha outrora Ai que gosto que nos dava então come-la Porque agora em vez de gosto tem um preço Que por subir de hora a hora já nem da vontade vê-la