Eu sou o morcego Que guarda o segredo Das ruas desertas e dos armazéns O pássaro noite de asas escuras Que não traz a cura Ao amor de ninguém Eu sou o vigia Do que não espreita De quem não se deita E não dorme bem Não sirvo pra Vera, pra Sônia ou Tereza Nem vejo beleza na vida também Talvez como estradas com seus mal-assombros Como o desassombro de todos os cabras Sou como o escuro do fundo das grotas A água que brota da língua afiada Eu sou o morcego Guardando a energia De toda a magia das encruzilhadas Sou como o veneno que mora escondido No verde do lodo da água parada Mas antes de tudo Com ódio e com medo Sou o desespero de uma legião Que vendo chegada à hora da luta Descobre já tarde Que ataram lhe as mãos O grito soturno Da rasga mortalha O canto de agouro De algum bacurau Eu sou o morcego De asas escuras Vagando às alturas Do bem e do mal Sou como o estandarte De cada fileira Que ficou dançando no sol do sertão Sou como o lampejo de brilho de susto Dos olhos de quem encontrou Lampião