Se os animais falassem Ouviríamos agora o depoimento de um boi Que matou um toureiro Para salvar sua própria vida Eu fui laçado, e arrastado da capoeira E foi, de qualquer maneira, me jogaram na prisão Ajoelhado, implorava nessa hora Amarrado na gaiola, como se fosse um ladrão Mas eu confesso aos senhores jurados Tentei pular o alambrado e fugir pro estradão Mas nessa hora, pelos homens fui barrado Veja meu corpo marcado por pancada e por ferrão E lá na arena, neste beco sem saída Para não perder a vida, triste luta eu enfrentei Todo o aplauso era pro meu inimigo Temendo grande perigo, desesperado chorei Mas não sabia, o toureiro desumano Que em defesa dos rebanhos, muitas feras derrotei Com minha alma envolvida na tristeza Em legítima defesa, para não morrer, matei Lida a sentença, se diga ao bem da verdade Me foi dada a liberdade de voltar pro meu rincão Na despedida, eu disse quando partia Sei que vou morrer um dia, por capricho do patrão Então serei retalhado em pedacinhos Pra alimentar seus filhinhos, no recheio de seu pão A minha carne lhe darei nesse momento Em forma de pagamento da minha absolvição