A Mariquinhas p´rós céus Partiu sem as tamanquinhas Deixou a guitarra a Deus E à moirama as tabuinhas Caiu chuva, fortemente, Num beco da Mouraria D´onde o Sol, por ironia, Também quiz estar ausente. Dos lábios de tanta gente Crente, e mesmo os ateus, Encomendaram a Deus A alma da pecadora E lá foi, naquela hora, A Mariquinhas p´rós céus Fazer milagre, quiz Deus, Em trazer ao funeral Um escol fenomenal D´alguns nobres e plebeus. O Conde; o Roque; o Mateus; O Custódia e o Ginguinhas, Choraram a Mariquinhas Essa figura lendária, Que à procura da Cesária Partiu sem as tamanquinhas E a Cigarra cantadeira Não fará mais gorgeios, Gorgeando os seu anseios No fado à sua maneira. Na Rua da Amendoeira Andam jám os fariseus A pregar, feitos judeus, Com fingido sentimento Que ela, no testamento, Deixou a guitarra a Deus No cofre, já tão falado, Ficaram as rendas finas, Muitos laços, as cortinas, E um lençol todo bordado E tudo foi averbado, P´ra deixar às mais velhinhas, No fado velhas rainhas Que lá viram exarado: Eu deixo o meu chaile ao fado E à moirama as tabuinhas.