Tejo que levas as águas correndo de par em par lava a cidade de mágoas leva as mágoas para o mar Lava-a de crimes espantos de roubos, fomes, terrores, lava a cidade de quantos do ódio fingem amores Leva nas águas as grades de aço e silêncio forjadas deixa soltar-se a verdade das bocas amordaçadas Lava bancos e empresas dos comedores de dinheiro que dos salários de tristeza arrecadam lucro inteiro Lava palácios vivendas casebres bairros da lata leva negócios e rendas que a uns farta e a outros mata Tejo que levas as águas correndo de par em par lava a cidade de mágoas leva as mágoas para o mar Lava avenidas de vícios vielas de amores venais lava albergues e hospícios cadeias e hospitais Afoga empenhos favores vãs glórias, ocas palmas leva o poder dos senhores que compram corpos e almas Leva nas águas as grades ... Das camas de amor comprado desata abraços de lodo rostos corpos destroçados lava-os com sal e iodo Tejo que levas nas águas